quarta-feira, 20 de outubro de 2010

:: Contraponto: ::


O brasileiro cultiva o patriotismo?


SIM

Anderson Silva

O brasileiro passa uma boa parte do tempo tentando se convencer de que não é patriota. Fala mal do presidente, critica o Governo de forma geral, se irrita com as falcatruas do Congresso Nacional, mas não deixa de ser brasileiro. É até comum ouvir pessoas dizendo “odeio este país” ou “nada aqui vai pra frente”, tentando mostrar para os demais sua revolta com relação a um país que ele diz não amar.
Mas basta ouvir o toque do Hino Nacional brasileiro para começar a se emocionar, estremecer, sentir arrepios. Estes gestos demonstram respeito, amor e carinho por sua nação. Patriotismo é amor à pátria, é o que sentimos diante da bandeira do Brasil, do Hino Nacional.
Podemos afirmar, com certeza: sim, o brasileiro cultiva o patriotismo. Um dos fatos que comprovam essa afirmação é a repercussão causada recentemente a partir da fala do ator Sylvester Stallone, no painel de divulgação do seu filme ‘Os Mercenários’. Durante entrevista à Comic–Con 2010, ele ironizou: “Gravar no Brasil foi bom, pois pudemos matar pessoas, explodir tudo e eles (os brasileiros) ainda dizem, obrigado”.
Este era o principal assunto dentro de ônibus, escolas, bares e debates em universidades. Mas se temos tanta convicção de que não somos patriotas, por que ficamos tão irados com as declarações do norte americano? Por que este assunto teve tanta repercussão? Queríamos que ele se retratasse, afinal de contas, ele falou do Brasil, minha pátria mãe gentil.
Vale ressaltar, contudo, que o brasileiro não tem o patriotismo belicoso, como nosso vizinho norte americano, por exemplo, mas sentimos orgulho de ser o povo brasileiro. Sabemos que em nosso país há injustiças sociais, como a má distribuição de renda e vários outros problemas que conhecemos bem. Mas qual país não sofre com a pressão social devido à luta de classes? E a disputa pela hegemonia do capital?
O Brasil é um país apaixonante e de gente apaixonada. Vivemos com emoção e nos orgulhamos de sermos brasileiros.
Se você, leitor, tem dúvidas do seu patriotismo, comece a analisar os outros países. Viaje para o exterior e, em pouco tempo, vai sentir falta da sua pátria mãe gentil.
Coordenador pedagógico da Max Cursos Preparatórios


NÃO
Hilton César de Oliveira

Apesar de a palavra patriotismo ser um vocábulo muito frequente nas conversas, acredito que seu verdadeiro significado escapa à compreensão registrada nos dicionários. As pessoas, ao fazerem uso da palavra em linguagem corrente, podem querer expressar sentimentos que subvertem seu sentido original. Entendo ser conveniente recuperar seu sentido original para explicar as razões de meu ceticismo frente à ideia da existência do patriotismo no Brasil.
O dicionário Aurélio define patriotismo como “amor da pátria; consciência dos deveres cívicos e apego e/ou admiração pelas coisas do seu país”, tal como definia no século XIX os defensores da unidade nacional em países como França, Itália ou Alemanha. Para eles, o patriotismo apresentava-se como um culto à nação e deveria prescindir ante a qualquer manifestação de apego regional. O patriotismo era uma espécie de cimento que imobilizava as diferenças locais em favor de um projeto mais amplo: o Estado-Nação.
No Brasil, a vaga nacionalista começa a ganhar espaço na terceira década do século XIX. Um concurso do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1838, com o tema “como se deve escrever a História do Brasil”, vencido pelos naturalistas Spix e Martius, acabou dando a resposta que se esperava para se fundar a nação brasileira: a fusão entre as raças branca, negra e índia como produtoras de sentido à construção de uma identidade nacional. O que viria a seguir seria incutir nos diversos grupos sociais que se constituíam no Brasil o sentimento de pertencimento a uma coisa maior: ser brasileiro.
Apesar dos esforços, a unidade nacional no século XIX esteve muito mais ligada à figura do imperador do que a certo sentido de brasilidade. Seria preciso vir à República para que o tema da nacionalidade viesse à tona novamente. É nessa época que são forjados os símbolos nacionais: o hino nacional e a bandeira.
O método da comparação pode ser uma ferramenta interessante. Veja o que se passa entre franceses e norte-americanos, que confundem sua própria história com os movimentos que teriam dado a eles a “liberdade plena”, ainda que possamos discordar disso: a revolução francesa de 1789 e a independência norte-americana de 1776. No Brasil, o 7 de setembro é um arremedo longe de apresentar o gosto popular verificado na comemoração das datas nacionais de França e Estados Unidos.
Bandeira e hino são instrumentos de veneração permanente de franceses e norte-americanos. Esses símbolos constituem-se em metáforas da nacionalidade nesses países, uma espécie de segunda pele. Os inimigos sabem disso ao realizarem rituais de queima de seus pendões nacionais, haja vista o que se vê no Oriente Médio nos movimentos contra a presença Ocidental.
No caso do Brasil, a bandeira só aparece em profusão por ocasião de eventos esportivos. Nesse caso, o patriotismo associado ao culto à bandeira só acontece em ocasiões muito especiais. Como se vê, devemos esperar a próxima Copa do Mundo, a ser realizada no Brasil, para que o patriotismo volte em sua forma mais exacerbada. Até lá, contentemo-nos com os patriotas de ocasião.
Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense e professor de História do UniBH


Fonte: hojeemdia.com.br

Post feito por Petit ♥

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