segunda-feira, 1 de março de 2010

:: José Mindlin ::


"Num mundo em que o livro deixasse de existir, eu não gostaria de viver."



No ultimo domingo em São Paulo, faleceu o bibliófilo José Mindlin. Ele tinha 95 anos e estava internado há cerca de um mês no hospital Albert Einstein. A morte foi causada por falência múltipla de órgãos.
Em 2006, Mindlin entrou para a Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira número 29, antes pertencente ao historiador e escritor Josué Montello.
José Ephim Mindlin nasceu em São Paulo em 8 de setembro de 1914. Formou-se em Direito em 1936, pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
Advogou até 1950, quando foi um dos fundadores e presidente da empresa Metal Leve S/A, empresa pioneira em pesquisa e desenvolvimento tecnológico próprio no seu campo de atuação. Em sua atividade empresarial desenvolveu grande esforço em prol do avanço tecnológico brasileiro e no processo de exportação de produtos manufaturados brasileiros.

Colecionador de livros desde os 13 anos, o bibliófilo José Mindlin decidiu, em 2006, doar seu acervo à USP (Universidade de São Paulo), criando a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin. O nome é uma homenagem ao bibliófilo e sua mulher, Guita Mindlin, que morreu em 2006.
Entre as raridades que foram doadas estão desde o primeiro livro em que o Brasil foi mencionado numa coletânea de viagens de Fracanzano da Montalbodo, de 1507, que noticia a viagem de Cabral, obras de história, periódicos, trabalhos científicos e didáticos, álbuns ilustrados, gravuras e edições valiosas de grandes obras da literatura nacional, muitas primeiras impressões e volumes autografados pelos próprios autores. Ao todo, foram doados cerca de 17 mil títulos, ou 40 mil volumes.
Uma vida entre livros é uma obra desavergonhadamente derramada, sincera, até um pouco exagerada às vezes, como se passa quando se confessa uma paixão. Nele, Mindlin deixou de lado a vida mais crua do mundo empresarial para se dedica a entregar aos leitores, sem nenhuma pose de literato, pequenos tesouros íntimos. José Mindlin é, pode-se afirmar, o grande amante dos livros no Brasil. Uma única regra o guiou na construção de sua esplêndida coleção, o prazer da leitura. "O que não gosto, e raramente acontece, é de ler por obrigação", diz. Mesmo diante daqueles títulos raros que sempre desejou e nunca conseguiu comprar, é o prazer, e não a cobiça, que o move. Ainda há muitos desejos insatisfeitos. Um deles é adquirir a primeira edição de Cultura e opulência do Brasil, de Antonil, publicada em 1711. Chegou a tê-la um dia nas mãos, mas não conseguiu comprá-la.

O empresário ensinou que a mais importante qualidade de um bibliófilo não é a fortuna, ou a erudição, mas a paciência. Ele relatava, para os que duvidavam, a difícil história que viveu com a primeira edição de O Guarany, de José de Alencar, de 1857. O livro – que é hoje um dos tesouros de sua biblioteca – foi oferecido a amigos do empresário, nos anos 60, por um grego, que pedia por ele algo como US$ 1.000. Para desespero de Mindlin, que só veio a saber da oferta depois, nenhum dos amigos se interessou. Dez anos depois, a primeira edição da obra apareceu no catálogo de um leilão de raridades na Inglaterra. Ele fez a encomenda a um livreiro londrino, que acabou deixando o livro escapar porque o achou caro demais. Em 1977, Mindlin foi a um leilão de livros raros em Paris e lá soube que O Guarany estava disponível. Na viagem de volta, já com seu tesouro no colo, pelo qual pagou muito mais do que o preço original, Mindlin pegou no sono. Ao desembarcar, não se deu conta de que deixara o livro caído no tapete do avião. A Air France o achou, três dias depois, em Buenos Aires. Foi preciso esperar mais alguns dias até o volume chegar, são e salvo, a seu destino definitivo.
Em matéria de livros, garante, que cada um deve ser capaz de fazer suas próprias escolhas. O leitor deve se permitir passar de Machado a Astérix ou de Shakespeare a Agatha Chirstie. O importante é o prazer da leitura.

A morte de Mindlin foi uma das maiores perdas para o nosso país tão carente de cultura e leitores apaixonados.Todas as homenagens são poucas comparadas a sua grandeza.



Fontes: recantodasletras.uol.com.br/homenagens/2113428
folha.uol.com.br



Post feito por Petit ♥


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